Malafaia muda o discurso
No seu programa televisivo desta manhã, Silas Malafaia disse que a campanha dos 100x
foi um tremendo sucesso, e arrecadou milhões com as ofertas de seus
telespectadores. Embora insista em dizer que “não liga para as
críticas”, Malafaia mudou o discurso e fez um novo desafio, mas desta
vez mais comedido, talvez por - isto é incrível!
- ter lido as críticas que lhe foram feitas, e esteja preocupado com o
rombo que a campanha dos 100x mais pode fazer na economia brasileira.
Afinal, se todo mês ele “liberar uma palavra” de que – no prazo de um
ano - os contribuintes vão ganhar 100 x mais que o dinheiro ofertado, a
já combalida economia mundial entrará no mais profundo e duradouro
colapso. Como se já não bastassem os bancos e os terremotos. Desta vez,
Malafaia foi menos, digamos, dadivoso: “liberou a palavra” de que aquele
que contribuir com o seu programa neste mês, vai ter cura das
enfermidades, vitórias na Justiça, prosperidade meia-boca, assim meio
genérica, etc., enfim, todas essas coisas que normalmente acontecem na
vida de qualquer pessoa durante um ano. Cá entre nós, a campanha dos
100x parece ter mais apelo popular, já que todo mundo sabe que o órgão
mais sensível do corpo humano é o bolso, e poucas coisas na vida
despertam mais as glândulas salivares do que o dinheiro fácil. Habacuque e os cassinos que o digam... Malafaia ainda agradeceu algumas pessoas não crentes por serem grandes ofertantes, talvez esperando promover um concurso sobre quem contribui mais, os crentes ou descrentes. O fato é que ele sabe manipular como poucos a camuflada diferença que existe entre fé e vontade de crer. Ainda que este seja um tema que mereça ser mais aprofundado, ter fé – do ponto de vista cristão – é algo bem diferente da vontade de crer. A fé é espiritual, verdadeiro dom de Deus, que concede ao homem a capacidade de ver além dos limites físicos do mundo material, e assim enxergar a sua própria miséria. A vontade de crer é emocional, e pode ser dirigida a qualquer coisa, não necessariamente mística, como acontece, rotineiramente, no conto do bilhete premiado. No caso da “palavra liberada” por Malafaia hoje, por exemplo, de nada vai valer o juiz decidir o processo nos próximos meses, conforme ele mesmo se havia proposto, já que a parte vai entender isso como uma resposta à oferta ao pastor. Assim, fica fácil a “palavra liberada” funcionar, já que o autoengano está sempre a postos para convencer o autoenganado de que um fato corriqueiro da vida é um suposto milagre. E o pastor tem ainda o bônus de dizer que, se nada aconteceu, o ofertante não teve fé. Se nem percebem que o discurso do “imune a críticas” mudou, uai...
A experiência mostra que nem sempre é possível juntar a fé à vontade de crer, como acontece com suas primas distantes, a fome e a vontade de comer. Se bem que – pensando melhor - elas nem são tão distantes assim, já que tem muita gente na igreja querendo juntar essas duas últimas priminhas, né não?
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