O caminho de Lutero ao Paraíso.
Para Martinho Lutero,
o triunfo da graça não ocorreu em um jardim, mas em um escritório. E a
vitória não ocorreu principalmente sobre a lascívia, mas sobre o temor
da ira de Deus. "Se eu pudesse acreditar que Deus não estava irado
comigo, pularia de alegria". Ele podia ter falado "soberana alegria".
Mas não conseguia acreditar nisso. E, em sua vida, o maior obstáculo
não era uma concubina em Milão, na Itália, mas um texto bíblico em
Wittenberg, na Alemanha. "Uma única palavra em [Rm 1.17], 'Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho' (...) estava me detendo. Pois eu odiava aquela, palavra, 'a justiça de Deus"'. Ele aprendera que a "justiça de Deus" significava a justiça "com a qual Deus é justo e pune o pecador injusto". ' Isso não concedia nenhum alívio nem era evangelho. Enquanto Agostinho "arrancava
[seus] cabelos e batia na testa com [seus] punhos cerrados" em
desespero por causa da sua escravidão à paixão sexual, Lutero "se irava
com uma consciência aterradora e perturbada... [e] persistentemente
golpeava Paulo naquele lugar [em Rm 1.17], querendo entender
ardentemente o que o apóstolo queria dizer".
Sua
vitória aconteceu em 1518, não como acontecera com Agostinho, com o
repentino cantar de uma criança, "Tome e leia", mas pelo estudo
inexorável do contexto histórico-gramatical de Romanos 1.17. Esse estudo
sagrado provou ser uma ferramenta preciosa da graça. "Finalmente, pela
misericórdia de Deus, meditando de dia e de noite, dei atenção ao
contexto das palavras, a saber: 'O justo viverá pela fé.' Então comecei
a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive por um
dom de Deus, em outras palavras, pela fé. Aqui senti como se tivesse
nascido de novo e entrado no paraíso por portões abertos". Foi essa a
alegria que transformou o mundo.
Justificação pela fé somente, sem as obras da lei, foi o triunfo da graça na vida de Martinho Lutero.
Ele realmente ficou, por assim dizer, de pernas para o ar de alegria,
e, juntamente com ele, o mundo inteiro foi revirado. Mas, com o passar
dos anos, Lutero se convenceu cada vez mais de que havia algo mais
profundo sob essa doutrina e o conflito dela com o aspecto meritório das
indulgências e o purgatório. Mas, ao final, o que produziu a defesa
mais ardente que Lutero fez da graça onipotente de Deus não foi a venda
de indulgências de Johann Tetzel, nem a promoção da idéia do purgatório de Johann Eck. O que provocou Lutero acima de tudo foi a defesa do livre arbítrio feita por Erasmo de Roterdã.
Erasmo foi para Lutero o que Pelágio fora para Agostinho.
Martinho Lutero admitiu que Erasmo, mais do que qualquer outro
oponente, havia percebido que a impotência do homem diante de Deus, e
não a controvérsia sobre as indulgências e o purgatório, era a questão
principal da fé cristã. Lutero escreveu seu livro A. escravidão da
vontade, publicado em 1525, em resposta ao livro de Erasmo, A. liberdade
da vontade. Para Lutero, esse livro que escrevera era o seu "melhor
livro teológico e o único digno de ser publicado". E isso porque, no
centro da teologia de Lutero, encontrava-se uma dependência completa da
liberdade da graça onipotente de Deus para resgatar homens impotentes da
escravidão que o livre arbítrio impõe. "O homem, por si só, não tem a
capacidade de purificar seu próprio coração e produzir dons divinos,
como um verdadeiro arrependimento de pecados, e, ao contrário do
artificial, um verdadeiro temor de Deus, verdadeira fé, amor sincero. A
exaltação, feita por Erasmo, do arbítrio decaído do homem como livre
para superar seus próprios pecados e sua escravidão era, na mente de
Lutero, uma confrontação à liberdade da graça de Deus e, portanto, um
ataque ao próprio evangelho e, por fim, à glória de Deus. Assim, Lutero demonstrou ser um estudante fiel de Paulo e Agostinho até o fim.
Fonte: http://pastoriranildomedeiros.blogspot.com/2010/11/o-caminho-de-lutero-ao-paraiso.html
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