O Falso Convite do Evangelho atual - John MacArthur
Existe
uma compreensão equivocada de que a escolha entre Cristo e os falsos
deuses é a escolha entre o desejo de ir para o inferno ou o desejo de ir
para o céu. Tenho ouvido pregadores dizerem que o caminho estreito é o
caminho do Cristianismo, escolhido por aqueles que desejam ir para o céu
e o caminho largo é aquele que as pessoas escolhem quando se contentam
em ir para o inferno. Porém, esses pregadores estão mal-informados ou
confusos. Não se trata de um contraste entre piedade e Cristianismo de
um lado, e a população descrente, luxuriosa, indecente e pagã
alegremente a caminho do inferno do outro lado. E um contraste entre
dois tipos de religião, ambos os caminhos com o aviso: "Este é o caminho
para o céu". Satanás não coloca um sinal indicando: "Inferno — Próxima
entrada". Esse não é seu estilo. As pessoas que entram pelo caminho
largo pensam que ele as levará para o céu.
Atitude de Mentes Estreitas
Em
Mateus 7.13,14, Jesus mencionou o portão estreito duas vezes e o portão
largo apenas uma vez. Da encruzilhada, ambos os caminhos parecem levar à
salvação. Ambos prometem a estrada para Deus, para o reino, a glória,
as bênçãos, o céu. Porém, só um dos caminhos realmente chega lá.
A
principal característica do caminho da vida apontado por Jesus foi sua
estreiteza. O caminho largo tinha todos os tipos de tolerância pelo
pecado, por leis além da lei de Deus, e por padrões abaixo e além dos
padrões de Deus. Todo sistema religioso construído pelo homem faz parte
do cenário do caminho largo. Porém, Jesus não procurou maneiras de
conciliação ou de acomodação. Ele disse simplesmente: "E necessário
deixar o caminho largo. Você precisa entrar pelo caminho estreito. Se
você quiser entrar no reino, você tem de ir nesses termos".
Não
é suficiente ouvir sermões sobre o portão; não é suficiente respeitar a
ética; precisamos atravessar o portão. E não podemos ir a não ser que
abandonemos nossa justiça própria, que nos vejamos como mendigos em
espírito, lamentando os pecados, humildes diante de um Deus santo, não
orgulhosos e cheios de si, famintos e sedentos por retidão, e não crendo
que já a possuímos. O inferno estará cheio de pessoas que admiravam
profundamente o Sermão do Monte. E necessário fazer mais do que isso. E
necessário obedecer e agir.
Não
podemos ficar do lado de fora e admirar o portão estreito, é necessário
deixar tudo para trás e atravessá-lo. Aí está a auto-renúncia
novamente. Atravessamos despojados de tudo. Mas isso não seria uma
atitude motivada por uma mentalidade limitada? Isso quer dizer que o
Cristianismo não abre espaço para pontos de vista opostos? Nenhuma
tolerância compassiva? Nenhuma diversidade?
Exatamente
isso. Não agimos dessa maneira por sermos egoístas ou orgu¬lhosos;
agimos assim porque foi isso o que Deus nos mandou fazer. Se Deus
tivesse dito que há 48 caminhos para a salvação eu pregaria e escreveria
sobre todos eles. Mas não há: "E não há salvação em nenhum outro;
porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens,
pelo qual importa que sejamos salvos", relembra-nos Atos 4.12, nenhum
outro nome senão Jesus.
No
Evangelho de João, Jesus disse: "...Eu sou o pão da vida" (6.35);
"...Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida" (14.6); "...o que não entra
pela porta no aprisco... é ladrão e salteador... eu sou a porta"
(10.1,7). Paulo confirmou essas palavras em lTimóteo 2.5: "Porquanto há
um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus,
homem". Há apenas um: Cristo e somente Cristo. Esse é um ponto de vista
limitado. Mas o Cristianismo é assim. E é a verdade. Temos de entrar nos
termos de Deus e pelo portão prescrito por Deus. Cristo é o portão. O
Deus Santo tem o direito de determinar as bases da salvação, e ele
determinou que seja Jesus Cristo, e apenas ele. Podemos entrar somente
por meio dele, pela fé. ' '
Um de Cada Vez
Ele
decidiu também que seu povo deve atravessar o portão estreito sozinho.
Isso está implícito na passagem, o qual alguns comentadores dizem que é
mais bem expressa pela idéia de catraca ou borboleta. Se você já foi a
um zoológico ou a um jogo com um grupo de pessoas, todos provavelmente
tiveram de passar por uma catraca. Quando todos se aglomeram no portão e
estão com muita pressa tentando entrar ao mesmo tempo, é necessário
compreender que passar por uma catraca não é algo que se possa fazer em
grupo. É preciso passar um de cada vez. Assim é com o portão estreito.
Atravessar o portão em direção ao reino de Cristo é uma jornada
solitária.
Essa
idéia é difícil de aceitar porque passamos a vida correndo com a
multidão, fazendo parte do grupo, parte do sistema, obtendo a aceitação.
Então, de repente, Cristo diz que teremos de passar por essa catraca
sozinhos. Estar na igreja não faz de você um cristão, assim como estar
numa garagem não o transforma num carro. Cada um deve ir a Cristo
sozinho, num compromisso individual de fé penitente e de auto-renúncia.
Isso é difícil.
Um Convite Falsificado
Sei
que isso choca algumas pessoas, porque ouvimos o tempo todo que é fácil
obter a salvação. "Apenas assine este folheto." "É só levantar sua
mão!" "Venha à frente enquanto o coro canta mais uma estrofe!" "Apenas
repita esta oração." "Convide Jesus a entrar em seu coração." Tudo soa
muito simples. O único problema é que nenhuma dessas atitudes tem
qualquer relação com a verdadeira salvação ou com atravessar o portão
estreito. Esses tipos de convites sugere que Jesus é um tipo de Salvador
pobre e lamentável, esperando que tomemos a iniciativa de permitir que
ele aja em nós. Isso subentende que a salvação depende da decisão
humana, como se o poder que nos salva fosse o poder do "livre-arbítrio"
humano.
Essa
ênfase é um fenômeno caracteristicamente americano que teve início no
século 19 com um advogado de Nova York transformado em evangelista,
chamado Charles Finney. Ele foi o principal anticalvinista americano,
insistindo em que as pessoas são salvas por um ato de pura força de
vontade. Portanto, qualquer estratagema necessário para manipular essa
vontade constitui num método essencial, porque qualquer coisa capaz de
convencê-los a se decidirem ser salvos é legítima. Os fins justificam os
meios. E, nesse caso, o manipulador "convite do altar" transformou-se
no foco principal do seu evangelismo.
Até
então, os evangelistas americanos eram, em sua maioria, calvinistas,
isto é, criam que os pecadores são salvos por ouvir a mensagem do
evangelho enquanto Deus o Espírito Santo os desperta de sua morte
espiritual. Mas Finney escolheu um caminho diferente. Ele recorreu a
apelos emocionais e ensinou que a salvação não exigia uma regeneração
soberana por parte de Deus, mas apenas um ato de vontade humana. As
pessoas iam à frente numa torrente sob a força de sua habilidade. Na
grande maioria dos casos não havia uma conversão real; de fato, Finney
mais tarde admitiu que seu ministério havia produzido em sua maior parte
semiconvertidos ou "convertidos" temporários. Mas o espetáculo das
multidões avolumando-se em direção ao púlpito era muito convincente.
Dwight
Moody adotou a técnica de Finney e passou-a adiante para uma geração de
evangelistas de estádio e líderes de ministério que ainda algumas vezes
promovem fantásticos eventos públicos e manipulam as pessoas para que
vão à frente.
De
acordo com Jesus, é muito, muito difícil ser salvo. No final de Mateus
7.14, ele diz o seguinte sobre a porta estreita: "...são poucos os que
acertam com ela". Não creio que ninguém jamais tenha escorregado e caído
no reino de Deus. Isso é graça barata, crença fácil, Cristianismo
dietético, uma abordagem superficial, emocional, avivalista: "Eu creio
em Jesus!" "Ótimo, você é da família, entre!" Não. Os poucos que acham a
porta estreita precisam procurar muito por ela e, então, atravessá-la
sozinhos. É difícil encontrar uma igreja ou um pastor ou mesmo um
cristão que possa nos orientar até ela. O reino é para aqueles que
agonizam para entrar, cujos corações estão despedaçados pelo pecado, que
lamentam humildemente, que estão com fome e com sede e esperam
ansiosamente que Deus mude sua vida. É difícil porque você tem o inferno
todo contra você. Uma das mentiras mais perversas de Satanás no mundo
de hoje é a noção de que é fácil se tornar cristão. Não é fácil de modo
algum. A porta que você precisa encontrar é muito estreita e você passa
por ela sozinho, angustiado pelos seus pecados e ansiando ardentemente
pelo perdão.
Alguém
pode dizer que isso se parece com a religião do desempenho humano. Não
é. Quando você chega a se sentir quebrado, ao reconhecimento de que, por
você mesmo não conseguirá passar pela porta estreita, então Cristo
derrama em você graça sobre graça para o fortalecer nessa entrada. Ao
ser quebrado, seu poder torna-se o seu recurso. Nossa parte é admitir
nosso pecado e incapacidade e rogar por misericórdia e poder do alto.
Nenhuma Bagagem
Não
é possível passar por uma catraca com bagagem. Para atravessar a porta
estreita que leva ao céu, você deixa para trás todas as posses e passa
com as mãos vazias. Não é a porta dos auto-satisfeitos, que desejam
carregar todas suas posses consigo, é a porta dos que renunciam a si
mesmos, que abando¬nam toda justiça própria e autoconfiança. Rejeitando
tudo o que já foram, deixam para trás o passado. De outra maneira, não
poderiam atravessar a porta. Nem ninguém mais poderia.
O
jovem líder rico chegou até a porta e perguntou a Jesus o que deveria
fazer para entrar no reino. O Senhor disse-lhe para abandonar seu
conjunto de malas Gucci e passar. Ele havia encontrado a porta que
poucos jamais en¬contram, mas recusou-se a entrar porque era muito
egoísta e egocêntrico para fazer o sacrifício que Jesus lhe pediu.
O
ponto importante aqui é maravilhosamente expresso em Mateus 18.3, em
que Jesus diz: "...se não vos converterdes e não vos tornardes como
crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus". A marca distintiva
das crianças é fato de que são absolutamente dependentes dos outros e
não alcançaram nenhum mérito próprio. Como afirma o escritor do hino:
"Nada trago em minhas mãos, apenas à tua cruz me apego". Fé salvadora é
mais do que um ato mental; é um desdém pelo próprio ser pecador, uma
admissão de desmerecimento, um apelo desarmado: "Senhor, sê
misericordioso para comigo, um pecador!" Não há nada de errado em
levantar as mãos ou recitar uma pequena oração, mas à parte de uma
verdadeira fé em Cristo isso não traz real salvação. Jesus exigiu uma
estrita, difícil, radical, dramática admissão de pecaminosi-dade; um
reconhecimento de que não somos nada e não temos nada que nos recomende
diante de Deus. A fé começa quando nos lançamos à sua misericórdia para
receber o perdão.
Arrependimento e Submissão
Para
atravessar a porta estreita, devemos entrar com o coração arrependido
pelo pecado, prontos a deixar o amor pelo pecado em favor pelo amor do
Senhor. Quando João Batista preparava um povo para receber o Messias,
eles iam para ser batizados porque queriam ter seus pecados perdoados.
Para qualquer judeu, a preparação para a vinda do Messias e a prontidão
para seu reino significavam purificar o coração de todo pecado.
Nós
também devemos entrar pela porta estreita em absoluta submissão a
Cristo. Ninguém pode ser regenerado, como Cristo indicou em Mateus 7,
simplesmente acrescentando Jesus Cristo às suas atividades mundanas. A
salvação não é um acréscimo, é uma transformação que leva a uma
voluntária submissão à sua Palavra. Toda a mensagem de 1 João resume-se
em que, se somos verdadeiramente redimidos, isso se manifestará numa
vida transformada na qual confessamos os pecados, obedecemos ao Senhor e
manifestamos amor por ele e pelos outros. O milagre divino de uma vida
transformada revela verdadeira salvação, resultando num coração que
deseja obedecer ao Senhor. Como afirmou Jesus: "...Se vós permanecerdes
na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos" (Jo 8.31).
Se
alguém que se denomina cristão não pensa nem age como cristão, este não
está no caminho que pensa estar. Provavelmente juntou-se ao bando que
atravessa rapidamente a porta larga da falsa religião. Não demonstra
nenhuma auto-renúncia: "Ei, traga toda a sua bagagem, toda a sua
ambição pessoal, sua vontade, todos os seus desejos egoístas, sua
imoralidade, sua falta de arrependimento e até sua relutância em
submeter-se inteiramente à liderança de Cristo. Podem passar sem
problema pela porta do amor à própria vida!" Muitos alegam ser
cristãos, mas ainda são absolutamente indulgentes consigo mesmos. Estes
nunca passarão pela porta estreita com toda essa bagagem. Embora talvez
não saibam, estão na estrada larga da destruição.
Diante da Encruzilhada
Uma
vez atravessada a porta larga, o grupo está todo lá e a vida é fácil:
nenhuma regra, nenhuma moralidade rígida e muita tolerância e
diversidade enquanto afirmamos que amamos a Jesus. Nesse caminho, todos
os desejos do coração decaído são atendidos. Não há necessidade de
humildade, nem de se estudar a Palavra de Deus. Nenhum esforço é
absolutamente exigido, como um peixe morto flutuando rio abaixo, a
corrente faz tudo. É o que Efésios 2.2 descreve como "o curso deste
mundo". É a estrada larga onde "o caminho dos ímpios perecerá" (SI 1.6).
Contraste
isso com o caminho estreito. A melhor tradução para a passagem de
Mateus 7.13,14 seria um caminho "constrito". A palavra literalmente
significa pressionar, ou estar confinado, como um lugar estreito sobre
um precipício. Essa é a razão pela qual em Efésios Paulo nos diz que
devemos andar de maneira circunspecta, com os olhos abertos sem nos
desviarmos. É um caminho muito apertado, cercado de ambos os lados pela
mão disciplinadora de Deus. A pessoa escorrega desse lado e logo -
plaft! — tem suas juntas espirituais deslocadas. O mesmo acontece do
outro lado. As exigências são firmes, estritas, refinadas e claras, não
há lugar para qualquer desvio ou abandono. O desejo do nosso coração
deve ser cumpri-las, sabendo muito bem que, quando falharmos, Deus nos
disciplinará e, então, ele mesmo maravilhosa e amorosamente nos perdoará
e nos colocará de novo de pé para cumprir sua vontade.
A
escolha, então, é entre estes dois destinos: o caminho largo que leva à
destruição e o caminho estreito que é o único caminho para o céu. Todas
as formas de religião do desempenho humano - desde o humanismo e o
ateís¬mo (a religião máxima do desempenho humano na qual o próprio homem
é Deus) ao pseudocristianismo — terminarão no mesmo inferno.
Como disse John Bunyan: "Para alguns, a entrada do inferno são os
portais do céu". Que tremendo choque será para algumas pessoas. Do outro
lado, o caminho estrei¬o se abrirá numa bem-aventurança eterna. O
caminho largo estreita-se num terrível fosso (abismo). O caminho
estreito alarga-se nas eternas glórias do céu, a plenitude de uma
indizível, eterna, brilhante comunhão de alegria com Deus que não
podemos sequer imaginar.
Em
Mateus 10.32,33 Jesus diz: "Portanto, todo aquele que me confessar
diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está
nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei
diante de meu Pai, que está nos céus". Você está desejoso de confessar o
Cristo do Novo Testamento, que é o verdadeiro Cristo, e o evangelho
pro¬clamado por ele, que é o verdadeiro evangelho? Você está livre da
vergonha para confessá-los aberta e publicamente? Ou você se envergonha
dele e de suas palavras e conseqüentemente nega que ele seja aquele quem
afirma ser ou que seu evangelho seja a mensagem verdadeira? Se o negar e
se envergonhar dele; se a pregação da cruz é tolice para você, então
está entre os que perecem.
Admiração
não é suficiente. Dizer que aprecia a Cristo e o serve não é
suficiente. Muitos no caminho largo admiram Jesus, mas não atravessaram a
porta estreita. Não foram com o coração partido e contrito. Não
chegaram esmagados pelo peso da lei de Deus com uma atitude penitente,
admitindo sua verdadeira condição desesperada e condenada, clamando por
salvação da única fonte: o Senhor Jesus Cristo.
O Senhor diz: "Se
você não me conhece nos meus termos, eu não o conheço de maneira
nenhuma. Se não veio com arrependimento e convicção de seu próprio
pecado, em abandono de si mesmo com tal desespero que você grita por
salvação e retidão do céu, qualquer que seja o custo, então você não
passou pela porta estreita. Não veio humildemente buscando perdão,
sabendo que não o merece". Você praticamente se envergonhou de Jesus e das palavras dele, e o encontrará envergonhado de você.
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