Eclesiastes - capítulo 11
Eclesiastes
11 é o menor capítulo do livro. Nele, o Pregador inicia a conclusão de
seu pensamento, e o faz de uma maneira muito bela, chamando a atenção
para o fato de que vale a pena viver. Se não concluísse de uma maneira
positiva, restaria a impressão de que nada vale a pena na vida, quando
ele pensa exatamente o contrário. Talvez Fernando Pessoa tenha captado,
inadvertidamente, o "espírito" da conclusão do Pregador: "tudo vale a
pena se a alma não é pequena". É este o sentido dos 3 primeiros versos
do capítulo 11, chamando a atenção de que trabalhar ajuda a ter
rendimentos para ajudar o próximo. "Lança o teu pão sobre as águas,
porque depois de muitos dias o acharás" (v. 1) é um belo versículo que
algumas vezes é usado fora de contexto, geralmente para dízimos e
ofertas, como se fosse algum negócio que pudesse ser realizado com Deus.
É, sim, um versículo sobre liberalidade, sobre desprendimento, sobre
repartir com os outros aquilo que se tem (v. 2), sem esperar nada em
troca (v. 6), já que ninguém sabe o dia de amanhã. Os tempos são
instáveis, imprevisíveis (v. 3), e não devemos ficar parados, apenas
observando (v. 4). Os desígnios de Deus também são imprevisíveis, mas
boa e oportuna sempre é a Sua providência (v. 5). Assim, podemos
entender melhor o que significa lançar o nosso pão sobre as águas. Pão é
sempre visto na Bíblia como um símbolo do sustento, do cuidado do Pai,
do pão nosso de cada dia, fruto do nosso trabalho, e remete à primeira
conseqüência do pecado original, quando Deus falou a Adão: "Do suor do
teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste
tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás" (Gênesis 3:19). O suor do
nosso trabalho não é em vão. Vaidade é reter o pão na vã confiança de
que a nossa vida depende dele. O maná que caía no deserto durava apenas
um dia, exceto o do 6º dia, que podia ser aproveitado no sábado. De
novo, a providência divina está em evidência aqui. Lançar o pão sobre as
águas significa, no contexto de Eclesiastes 11, não retê-lo, mas usá-lo
para ajudar ao próximo, para repartir aquilo que não só o nosso
trabalho, mas também a providência de Deus, nos permitiu ter e comer. E o
próprio Deus não reteve Seu Filho, mas o enviou a nós como o "pão da
vida" que desceu dos céus para nossa salvação (João 6:33-51).
A idéia básica de Eclesiastes 11:1 é exatamente este lançamento de uma nau aos mares do mundo, ao desconhecido, na esperança de que, de alguma forma, depois de muito tempo, a encontraremos de novo. A Bíblia do Peregrino traduz este versículo assim: "Ainda que envies o teu trigo pela superfície do mar, no fim do tempo o recuperarás", e comenta sobre os seis primeiros versículos:
Se Coélet aceita e aconselha algo, é usufruir do fruto do próprio trabalho. Logo, é preciso trabalhar para obter este fruto. Pois bem, a correspondência entre trabalho e resultado não é mecânica, a proporção não é matemática, o êxito não é seguro. Então, não vale a pena trabalhar?
A insegurança é faca de dois gumes: um empreendimento arriscado – o comércio marítimo – tem êxito, um empreendimento normal se expõe a múltiplos riscos; as nuvens fazem a árvore crescer, o vento a derruba, nuvens e vento seguem suas leis, entre firmes e caprichosas. O marido não sabe exatamente quando a mulher vai conceber ou como a vida entra no feto: como vai saber o plano misterioso de Deus que dá e sustenta toda a vida? A conclusão de Coélet é positiva: deve-se trabalhar enfrentando o risco e com esperança.
Desta maneira, o Pregador recupera e dá uma visão mais abrangente daquilo que já havia escrito em Eclesiastes 8:15. "exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol". O fruto do seu trabalho não deve ficar só para si, mas deve ser doado, "lançado" aos outros com alegria, pois, segundo Paulo lembra, "Deus ama ao que dá com alegria" (2 Coríntios 9:7). E assim, é formado um círculo com Eclesiastes 2:26, onde se diz que "Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus". Se o pecador, o ímpio, ajunta para dar involuntariamente ao justo, este deve ajuntar o que recolheu com o fruto de seu trabalho e redistribuí-lo voluntariamente aos outros, não apenas o rendimento, o salário, o dinheiro, mas o seu tempo, o seu cuidado, a sua disposição, sabendo que, em tudo, Deus está no comando, e fará prosperar aquilo que lhe apraz, e recompensará a cada um segundo a Sua vontade e providência. Aproveitemos o hoje, pois "doce é a luz, e agradável aos olhos ver o sol" (v. 7). No fundo, isso é tudo o que temos, o momento presente, o agora, como lembra o escritor de Hebreus (3:13) que nos aconselha a nos exortarmos "uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de nós se endureça pelo engano do pecado", e "pecado", na visão do Pregador, significa dar ao trabalho, às necessidades imediatas, enfim, à existência material um valor tal que desvie nossos olhos do Criador, e não nos prepare nem nos console nos dias de trevas, que são muitos (v. 8), pois, finaliza, "tudo quanto sucede é vaidade".
É neste, digamos, "espírito", que o Pregador se dirige aos jovens agora, aconselhando-os a se alegrarem na juventude, recreando o coração nos dias da mocidade, sempre tendo em mente que Deus pedirá contas de todas essas coisas, naquele que é um dos versículos mais conhecidos de Eclesiastes (11:9). É interessante perceber que o Pregador não aconselha uma vida de reclusão, de ascetismo, ou de completo isolamento, tanto que no versículo seguinte (10), chama a atenção para que se evite o desgosto, a depressão, a dor, mas se busque a alegria da vida com responsabilidade, sabendo que até a primavera da vida, que é a juventude, também é vaidade, preparando o seu leitor/ouvinte, principalmente jovem, para o conselho maior que dará no primeiro versículo do capítulo 12: "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer".
A idéia básica de Eclesiastes 11:1 é exatamente este lançamento de uma nau aos mares do mundo, ao desconhecido, na esperança de que, de alguma forma, depois de muito tempo, a encontraremos de novo. A Bíblia do Peregrino traduz este versículo assim: "Ainda que envies o teu trigo pela superfície do mar, no fim do tempo o recuperarás", e comenta sobre os seis primeiros versículos:
Se Coélet aceita e aconselha algo, é usufruir do fruto do próprio trabalho. Logo, é preciso trabalhar para obter este fruto. Pois bem, a correspondência entre trabalho e resultado não é mecânica, a proporção não é matemática, o êxito não é seguro. Então, não vale a pena trabalhar?
A insegurança é faca de dois gumes: um empreendimento arriscado – o comércio marítimo – tem êxito, um empreendimento normal se expõe a múltiplos riscos; as nuvens fazem a árvore crescer, o vento a derruba, nuvens e vento seguem suas leis, entre firmes e caprichosas. O marido não sabe exatamente quando a mulher vai conceber ou como a vida entra no feto: como vai saber o plano misterioso de Deus que dá e sustenta toda a vida? A conclusão de Coélet é positiva: deve-se trabalhar enfrentando o risco e com esperança.
Desta maneira, o Pregador recupera e dá uma visão mais abrangente daquilo que já havia escrito em Eclesiastes 8:15. "exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol". O fruto do seu trabalho não deve ficar só para si, mas deve ser doado, "lançado" aos outros com alegria, pois, segundo Paulo lembra, "Deus ama ao que dá com alegria" (2 Coríntios 9:7). E assim, é formado um círculo com Eclesiastes 2:26, onde se diz que "Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus". Se o pecador, o ímpio, ajunta para dar involuntariamente ao justo, este deve ajuntar o que recolheu com o fruto de seu trabalho e redistribuí-lo voluntariamente aos outros, não apenas o rendimento, o salário, o dinheiro, mas o seu tempo, o seu cuidado, a sua disposição, sabendo que, em tudo, Deus está no comando, e fará prosperar aquilo que lhe apraz, e recompensará a cada um segundo a Sua vontade e providência. Aproveitemos o hoje, pois "doce é a luz, e agradável aos olhos ver o sol" (v. 7). No fundo, isso é tudo o que temos, o momento presente, o agora, como lembra o escritor de Hebreus (3:13) que nos aconselha a nos exortarmos "uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de nós se endureça pelo engano do pecado", e "pecado", na visão do Pregador, significa dar ao trabalho, às necessidades imediatas, enfim, à existência material um valor tal que desvie nossos olhos do Criador, e não nos prepare nem nos console nos dias de trevas, que são muitos (v. 8), pois, finaliza, "tudo quanto sucede é vaidade".
É neste, digamos, "espírito", que o Pregador se dirige aos jovens agora, aconselhando-os a se alegrarem na juventude, recreando o coração nos dias da mocidade, sempre tendo em mente que Deus pedirá contas de todas essas coisas, naquele que é um dos versículos mais conhecidos de Eclesiastes (11:9). É interessante perceber que o Pregador não aconselha uma vida de reclusão, de ascetismo, ou de completo isolamento, tanto que no versículo seguinte (10), chama a atenção para que se evite o desgosto, a depressão, a dor, mas se busque a alegria da vida com responsabilidade, sabendo que até a primavera da vida, que é a juventude, também é vaidade, preparando o seu leitor/ouvinte, principalmente jovem, para o conselho maior que dará no primeiro versículo do capítulo 12: "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer".
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