Padres pedófilos de Arapiraca são condenados pela Justiça e punidos pelo Vaticano
O caso veio a público em março de 2010 (veja "O escândalo dos padres pedófilos de Arapiraca") e agora já tem uma sentença criminal de 1ª instância, segundo noticia o iG - Último Segundo, além de uma punição (ainda sigilosa) do Vaticano, segundo informa o Diário do Grande ABC:
Religiosos são condenados por pedofilia em Arapiraca-AL
Padres eram acusados de abusar sexualmente de ex-coroinhas; decisão sai depois de quase quatro meses do fim do julgamento
O juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Arapiraca (AL), João
Luiz de Azevedo Lessa, condenou nesta segunda-feira, por crime de
pedofilia, três religiosos da Igreja Católica: o monsenhor Luiz Marques
Barbosa, de 83 anos, a 21 anos de prisão; o monsenhor Raimundo Gomes,
53, e o padre Edílson Duarte, 45 anos, a 16 anos e quatro meses de
prisão. Apesar da condenação, eles não foram presos.
De acordo com o juiz, os religiosos são réus primários e cumpriram as
determinações solicitadas pela Justiça. Após o recesso do judiciário, os
advogados dos religiosos serão notificados da decisão e terão cinco
dias para recorrer da sentença. A sentença só foi proferida depois de
quase quatro meses do final do julgamento, que foi adiado várias vezes
devido a pedidos de diligência e ausência de testemunhas.
Os padres foram investigados a partir de denúncias de ex-coroinhas que
relataram casos de abuso sexual dos religiosos contra crianças e
adolescentes, em março do ano passado. Um ex-coroinha, que afirma ter
sido vítima do monsenhor Luiz Marques Barbosa, filmou às escondidas o
sacerdote na cama com um outro coroinha, colega seu. As denúncias e o
vídeo chocaram a cidade, a segunda maior de Alagoas, com população de
209 mil habitantes.
O bispo da diocese regional de Penedo, que engloba Arapiraca, Dom
Valério Breda, que, segundo as vítimas, tinha ciência de tudo o que se
passava, afastou os religiosos dois dias depois da eclosão do escândalo.
Ele prometeu para amanhã a divulgação de uma nota oficial da diocese
sobre a condenação judicial.
Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual à Justiça, figuram
como vítimas de abuso dos religiosos Fabiano Silva Ferreira, 21 anos,
Cícero Flávio Vieira Barbosa, 20 anos, e Anderson Farias Silva, 21 anos.
Eles foram os primeiros a serem ouvidos pelo juiz - que estava
acompanhado do promotor do MPE, Alberto Tenório - durante o julgamento.
Eles reafirmaram as denúncias de abuso quando eram menores de idade.
De acordo com os autos do processo, as investigações apontaram que os
padres prometiam vantagens econômicas aos coroinhas para ganhar a
confiança deles e depois tirar proveito das vítimas. Em um dos
depoimentos da acusação, o caminhoneiro João Ferreira, que trabalhava
como motorista do monsenhor Barbosa, disse que o religioso era carinhoso
com os coroinhas, mas só se deu conta de que abusava dos garotos depois
de ver o vídeo. Os padres mantiveram a declaração de inocência.
Religiosos de Arapiraca são punidos pela Santa Sé
Os três sacerdotes condenados em primeira instância, por pedofilia, pela
Justiça de Arapiraca (AL), também já tiveram suas punições determinadas
pela Santa Sé, em Roma. De acordo com nota divulgada na tarde de hoje
pela Diocese de Penedo, que engloba Arapiraca, processos administrativos
canônicos contra os religiosos foram instaurados logo depois de vir a
público as denúncias de abusos sexuais, feitas por ex-coroinhas em março
do ano passado.
O processo canônico contra o monsenhor Luiz Marques Barbosa, 83 anos -
que aparece em um vídeo gravado por um ex-coroinha tendo relações com um
outro ex-coroinha - já foi concluído e ele já foi notificado da sua
punição em 15 de dezembro. O monsenhor Raimundo Gomes Barbosa, 53 anos, e
o padre Edílson Duarte, 45, também já foram julgados pela Santa Sé, mas
ainda não foram notificados. As penas da Igreja Católica só poderão ser
divulgadas quando todos estiverem cientes das punições que lhes cabem.
Na nota, assinada pelo bispo diocesano Valerio Breda, ele afirma que a
diocese sente-se "profundamente acabrunhada" com a notícia da condenação
judicial e compartilha "as expressões mais fortes e eloquentes do Santo
Padre, o Papa Bento XVI, não escondendo 'desconcerto e vergonha' pelos
'crimes odiosos' perpetrados por clérigos, manifestando apoio irrestrito
às vítimas dos abusos". Ele também exorta os padres e fiéis a não
esquecerem "o bem realizado pela imensa maioria dos sacerdotes
irrepreensíveis e abnegados e a não ceder a sentimentos de decepção e de
indiferença".
Ainda sem ter conhecimento da punição dos sacerdotes pela Santa Sé e do
posicionamento da diocese, que acatou a decisão judicial de condenar o
monsenhor Luiz Marques Barbosa a 21 anos de prisão e os outros dois
religiosos a 16 anos e quatro meses, parte da população de Arapiraca,
como Diego Albuquerque, enfermeiro, integrante do grupo jovem da
paróquia do Cristo Redentor, preferia não julgar os três religiosos.
Ainda assombrado com o episódio, Diego deixou transparecer uma ponta de
dúvida sobre a culpa dos três, embora tenha aprovado a decisão do juiz
da 1ª Vara da Infância e Juventude de Arapiraca, João Luiz de Azevedo
Lessa. "Mostra que Alagoas não é terra sem dono, mostra que Alagoas não é
terra da impunidade", afirmou ele. Segunda maior cidade do Estado,
Arapiraca tem 209 mil habitantes.
Sem discutir a decisão judicial - "A justiça sabe mais do que a gente
que não conhece o processo" - ele se impressionou com as penas, que
considerou muito longas. Sua certeza só se manteve quando falou da sua
fé, que não foi abalada pelos crimes dos religiosos. "Os ensinamentos e a
doutrina da Igreja Católica independem de quem está no altar",
assegura.
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